Uma visita às grutas pode ser um verdadeiro atentado à paciência. Para mim foi um teste aos limites do ser humano.
Se não acreditam, juntem estes ingredientes:
1- Imaginação fértil dos visitantes
2- Guia de voz aguçada e um feitio daqueles... torcida, torcida, torcida!
Imaginação Fértil dos Visitantes:O que é que se passa com o ser humano em geral, e com os portugueses em particular, que para cada pedra que olham, têm de lhe arranjar uma parecença qualquer. Nas grutas, esta característica atinge os pícaros do imaginável.
Por mais que uma pessoa tente perceber as histórias das grutas, dos seus milhares de anos, as suas construções, a sua formação, a única coisa que retive foi que cada pedra se parecia com alguma coisa. “Olha filho, aquela estalag... estala... estalaguetoite parece uma senhora a amassar o pão numa manhã fria de Outono, enquanto o marido sai para o campo com o seu gado”, “Ó mãe, aquela pedra parece um cão”, “aqui temos uma estalactite que se assemelha a um bolo de noiva”. E é isto ao longo de toda a visita. Foi tão saturante que fiquei sem saber se estava realmente numa gruta ou num museu de arte contemporânea rodeado de entendidos na matéria.
Guia de voz aguçada e um feitio daqueles... torcida, torcida, torcida!
Para completar o ramalhete, a guia da gruta, sempre muito esforçada em demonstrar que sabia o texto todo, gritava desalmadamente cada linha do que tinha decorado. Tinha também uma característica que eu achei fenomenal, começava as frases sempre da mesma maneira, fica aqui um exemplo real:“ESTA É A GRUTA GRANDE! CHAMA-SE ASSIM PORQUE É GRANDE!"
“ESTA É A GRUTA VERMELHA! CHAMA-SE ASSIM PORQUE AS PAREDES SÃO VERMELHAS!”
Ainda fiquei meio baralhado, pensei que a Gruta Grande fosse a que tinha as paredes vermelhas e a Gruta Vermelha fosse a gruta grande. Mas, graças a esta explicação todas as minhas dúvidas foram dissipadas. Sorte a minha.
Outra característica interessante da guia é que não sabia falar espanhol. Tudo bem, até pode ser compreensível, pois onde quer que se vá, nunca há ninguém a falar português para nos ajudar. Mas como estava lá uma excursão de espanhóis, por vezes eu dava por ela a tentar falar espanhol. E ficava algo do género:“IESTA IE IA GRIUTIA GRIANDIE! GHIAMIA-SIE ASSIM PIORQUIE IÉ GRIANDIE!”A sua assertividade era de arrepiar qualquer um. O olhar e a forma como nos mandava calar quando queria começar a falar eram fulminantes. Senti-me novamente uma criança com a professora a mandar calar e ainda me arrisquei a levar um tabefe!
Deixo também aqui um momento único, a mostrar que a inteligência do ser humano é do caneco:
-Guia: “Estas construções calcárias demoram milhares de anos a serem formadas, crescendo cerca de 1 milímetro de 100 em 100 anos”
-Visitante para o filho: “A última vez que cá vim, esta estalactite não estava aqui”.
Após ouvir estas palavras, só me ocorreu dar os parabéns à senhora, pois estava muito bem conservada.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Deviam fazer uma série sobre a vida dos guias turísticos! Apanham com cada personagem que só eles é que sabem. Acho praticamente impossível ficarmos num grupo em que não haja "personagens" assim...
Abraço
O ideal seria fazer-mos a visitas sozinhos mas creio que nao e possivel!
Saudacoes serranas d'Algodres.
Enviar um comentário