Para todos aqueles que, qual lançamento do novo livro do Harry Potter, aguardam pacientemente à porta do Blog por este post, aqui vai, tão detalhado quanto possível, o meu episódio de férias.
Arrancámos (eu e a Sra. Ogre) na quinta feira, por volta das 7h00, "Para fugir ao trânsito matinal" sugeriu a Sra. Ogre. Passados 10 minutos, chegámos à conclusão que deveríamos ter saído, para aí, uma horita mais cedo. Serpenteando eu o "Zé Inácio" (para quem não sabe, o Zé Inácio é o meu carro que, não me canso de gabar, fez uma média de 6,1l/100km. O que para uma carrinha a gasolina é capaz de ser obra!) por atalhos e atalhos de atalhos, lá passámos a ponte e começámos a viagem propriamente dita.
Até Espanha a coisa correu sem sobressaltos, sempre dentro dos limites e aplicando a minha aprumada técnica de condução defensiva.
Chegados a Espanha e como bons portugueses que somos, toca de ir meter gasolina. São só menos 30 cêntimos por litro, ainda assim achei que valia a pena, mas, ainda assim, não atestei...
Já com meio depósito cheio de combustível espanhol seguimos pelo caminho que tínhamos previamente escalpelizado com a ajuda do google maps.
O que eu acho engraçado nisto dos GPS's é que quando escolhemos o caminho mais curto, ele, para poupar 500 metros, não se coíbe de nos mandar para dentro de localidades com ruas de sentidos únicos em que mal dá para passar um carro! Na viagem de regresso descobri uma estrada que contornava essa terreola mas que, de facto, era mais meio quilómetro e isso era coisa para estragar a média toda...
Já na autovia, quase a chegar a Sevilla (ou, mais propriamente a Benacazon, a 16 km's, que foi onde ficámos hospedados) começou a confusão. Não é que os gajos lembraram-se de fazer autovias onde as saídas tanto podem ser para a direita, como para a esquerda? Custou um bocado a habituar...
Chegámos ao Hotel Andaluzi Park, fizemos o check in, fazendo uso do nosso melhor espanhol, que consiste em colocar i's antes de cada vogal e abalámos para o centro de Sevilla. Mais uma vez, o trânsito causou-me algum transtorno mas, comparando com Lisboa, era um caos pacífico. Muitas ciclovias, muita gente de bicicleta e muitos semáforos (que é como se não existissem para os lambreteiros de Sevilla).
Após deixarmos o Zé Inácio num dos muitos parques subterrâneos (alguns com aspecto bem sinistro) partimos à descoberta de Sevilla. Secretamente, ainda procurei um barbeiro, mas não encontrei nenhum.
Lá andámos pelas ruas onde pude constatar que os portugueses não têm o exclusivo mundial da arte do cuspir para o chão. Temo até que os espanhóis estejam algo mais avançados. É que todo o ritual roça a perfeição, desde o puxar ruidosamente (mas um ruído melódico) o escarro até o cuspir onde se consegue destrinçar o momento em que o muco irrompe pelos lábios até cair, aveludadamente, no chão.
Encontrámos também algumas senhoras de etnia cigana que, ao contrário das portuguesas que andam pelas ruas a vender coisas com o mínimo de utilidade, tipo pensos rápidos ou roupas contrafeitas, andam pelas calles a tentar impingir aos transeuntes bocados de ervas, que nem são daquelas para fumar!
Passámos à porta de umas urgências de um qualquer hospital e, como já tinha saudades de Portugal, ainda pensei em fingir qualquer coisa para ouvir um diagnóstico em espanhol que me fizesse lembrar o Amadora-Sintra.
Apesar de ser Outubro, aquilo em Sevilla era coisa para estarem uns 30 graus. Se há coisa que liga menos que o Zé Castelo Branco e a lady Betty são castanhas assadas e calor. Ainda assim, dois ou três vendedores ambulantes acham que não, que aquilo é que é negócio. Segundo pude apurar junto de um deles, nos meses de Fevereiro a Maio está em Andorra a vender gelados...
No que diz respeito à cidade propriamente dita, é engraçada. não há assim muita coisa para ver, mas é agradável. Anda-se bem na rua, sendo a cidade plana e com muito espaços verdes. Já as pessoas são antipáticas, arrogantes e mal encaradas. Enfim foi o confirmar da ideia que já tinha.
Na sexta decidimos jantar perto do hotel. Sendo que Benacazon é uma terreola minúscula, consegui ir de uma ponta a outra (sempre dentro do limite de velocidade) mais depressa do que consegui dizer "Oh Sra. Ogre, veja lá onde é que é o centro disto para eu estacionar o Zé Inácio". Quando dei por mim já estava no meio do nada. Dei a volta e segui com cuidados redobrados. Quando chegámos ao centro de Benacazon reparei que as rodas de trás do Zé estavam já fora da localidade, o que dá para ver a pequenez da cena.
Tal não foi a nossa sorte que começámos a ouvir foguetes. Era noite de arraial! Toca de ir seguir os foguetes e vamos à festa! E que festa. Dentro de um pavilhão estava um senhor a tocar acordeão ainda a aquecer as cordas vocais para o que se esperava ser um concerto memorável. Cá fora uma espécie de feira popular com 7 atracções. Tive a oportunidade de contar que nas sete atracções estavam sete crianças (sendo que na mais popular estavam quatro miúdos). E, tirando meia dúzia de adultos que estavam a tomar conta dos putos não havia mais ninguém.
Fomos jantar ao restaurante de Benacazon e foi a surpresa da viagem. Entrámos, dissemos à senhora que éramos dois (e era mesmo verdade) e fomos encaminhados para o chefe de sala. Após alguns minutos de reflexão, o chefe de sala (vamos chamar-lhe "Paco" só para dar menos trabalho) encaminhou-nos para uma das 5 mesas que estavam livres.
Quando o Paco se preparava para debitar os pratos do dia, a Sra. Ogre roga-lhe para que fale mais devagar, de modo a que possamos entender 12% daquilo que ele estava para ali a dizer.
Compreensivo, Paco apressa-se a recolher as ementas e a trazer umas traduzidas para inglês.
Após alguma breve análise à lista deparo-me com um "quick shave of sailor" que acompanhava com qualquer coisa. Joguei pelo seguro e pedi uns bifes com molho de pimenta. A Sra. Ogre pediu um Mil Folhas de Bacalhau e Salmão. Enquanto esperava fui comendo o pão que, apesar de ser bem esquisito, marchou todo.
Nem demorou 10 minutos e chegou a comida. Excelente apresentação, óptimo paladar, digno de um restaurante "como deve ser".
Para a sobremesa veio outra empregada (vamos chamar-lhe "La Cabra", para facilitar) atender-nos. Perguntou-nos se queríamos sobremesa (que em espanhol de diz qualquer coisa começado por "P" que não consegui perceber) e eu, em perfeito português disse "pode trazer a lista, se faz favor?"
- "lista? lista? la carta?"
- "sim, sim, a carta... cabra... (isto da cabra era eu a pensar...)
chega a cabra com a carta e, como não sou apreciador de chocolate necessitava de esclarecer a composição de duas das sobremesas para poder efectivar uma escolha consciente. Estava na dúvida entre "Natillas", que já tinha comido na Sierra Nevada (onde fui exemplarmente servido pelo meu amigo Jesus) e "Lo dulce de la avuela" - o doce da avó. Se em Portugal o doce da avó é igual em qualquer lado, a avó dos espanhóis deve ser outra...
Quando pergunto à cabra "Olhe, desculpe, isto aqui do doce da avó é o quê?" perante a cara que ela fez, vi-me obrigado a repetir, mas mais pausadamente. Ela começou para ali a falar de uma maneira que eu só consegui perceber "licor".
- "ok, deixe lá, então e isto das natillas, relembre-me lá o que são natillas"
- "isso san natillas"
- "sim, mas o que sã..."
- "natillas. na-ti-llas"
- "ok, ok, pode ser isto" digo eu com um ar de como quem diz "eu sei ler ó cabra, mas em Portugal natillas não existe se eu te dizer "arroz doce" muito devagarinho tu vais ficar na mesma sem saber o que é!"
Vieram as natillas e afinal é tipo custarda. Para aqueles que, como a Sra. Ogre perceberam mostarda, não, é custarda. Não é mais que uma mistura algures entre maizena e leite creme.
No Sábado, já com o hotel pejadinho de portugueses que aproveitaram o fim-de-semana prolongado, fomos até à isla mágica. Muita gente, algum calor, mas aquilo é pequenito. Despacha-se bem numa tarde.
Depois disso, de volta a Portugal, não sem antes, agora sim, atestar o depósito a 700m da fronteira. um depósito por menos 15 euros é coisa para compensar.
Domingo foi passado em depressão. Já não tenho mais férias este ano...
Arrancámos (eu e a Sra. Ogre) na quinta feira, por volta das 7h00, "Para fugir ao trânsito matinal" sugeriu a Sra. Ogre. Passados 10 minutos, chegámos à conclusão que deveríamos ter saído, para aí, uma horita mais cedo. Serpenteando eu o "Zé Inácio" (para quem não sabe, o Zé Inácio é o meu carro que, não me canso de gabar, fez uma média de 6,1l/100km. O que para uma carrinha a gasolina é capaz de ser obra!) por atalhos e atalhos de atalhos, lá passámos a ponte e começámos a viagem propriamente dita.
Até Espanha a coisa correu sem sobressaltos, sempre dentro dos limites e aplicando a minha aprumada técnica de condução defensiva.
Chegados a Espanha e como bons portugueses que somos, toca de ir meter gasolina. São só menos 30 cêntimos por litro, ainda assim achei que valia a pena, mas, ainda assim, não atestei...
Já com meio depósito cheio de combustível espanhol seguimos pelo caminho que tínhamos previamente escalpelizado com a ajuda do google maps.
O que eu acho engraçado nisto dos GPS's é que quando escolhemos o caminho mais curto, ele, para poupar 500 metros, não se coíbe de nos mandar para dentro de localidades com ruas de sentidos únicos em que mal dá para passar um carro! Na viagem de regresso descobri uma estrada que contornava essa terreola mas que, de facto, era mais meio quilómetro e isso era coisa para estragar a média toda...
Já na autovia, quase a chegar a Sevilla (ou, mais propriamente a Benacazon, a 16 km's, que foi onde ficámos hospedados) começou a confusão. Não é que os gajos lembraram-se de fazer autovias onde as saídas tanto podem ser para a direita, como para a esquerda? Custou um bocado a habituar...
Chegámos ao Hotel Andaluzi Park, fizemos o check in, fazendo uso do nosso melhor espanhol, que consiste em colocar i's antes de cada vogal e abalámos para o centro de Sevilla. Mais uma vez, o trânsito causou-me algum transtorno mas, comparando com Lisboa, era um caos pacífico. Muitas ciclovias, muita gente de bicicleta e muitos semáforos (que é como se não existissem para os lambreteiros de Sevilla).
Após deixarmos o Zé Inácio num dos muitos parques subterrâneos (alguns com aspecto bem sinistro) partimos à descoberta de Sevilla. Secretamente, ainda procurei um barbeiro, mas não encontrei nenhum.
Lá andámos pelas ruas onde pude constatar que os portugueses não têm o exclusivo mundial da arte do cuspir para o chão. Temo até que os espanhóis estejam algo mais avançados. É que todo o ritual roça a perfeição, desde o puxar ruidosamente (mas um ruído melódico) o escarro até o cuspir onde se consegue destrinçar o momento em que o muco irrompe pelos lábios até cair, aveludadamente, no chão.
Encontrámos também algumas senhoras de etnia cigana que, ao contrário das portuguesas que andam pelas ruas a vender coisas com o mínimo de utilidade, tipo pensos rápidos ou roupas contrafeitas, andam pelas calles a tentar impingir aos transeuntes bocados de ervas, que nem são daquelas para fumar!
Passámos à porta de umas urgências de um qualquer hospital e, como já tinha saudades de Portugal, ainda pensei em fingir qualquer coisa para ouvir um diagnóstico em espanhol que me fizesse lembrar o Amadora-Sintra.
Apesar de ser Outubro, aquilo em Sevilla era coisa para estarem uns 30 graus. Se há coisa que liga menos que o Zé Castelo Branco e a lady Betty são castanhas assadas e calor. Ainda assim, dois ou três vendedores ambulantes acham que não, que aquilo é que é negócio. Segundo pude apurar junto de um deles, nos meses de Fevereiro a Maio está em Andorra a vender gelados...
No que diz respeito à cidade propriamente dita, é engraçada. não há assim muita coisa para ver, mas é agradável. Anda-se bem na rua, sendo a cidade plana e com muito espaços verdes. Já as pessoas são antipáticas, arrogantes e mal encaradas. Enfim foi o confirmar da ideia que já tinha.
Na sexta decidimos jantar perto do hotel. Sendo que Benacazon é uma terreola minúscula, consegui ir de uma ponta a outra (sempre dentro do limite de velocidade) mais depressa do que consegui dizer "Oh Sra. Ogre, veja lá onde é que é o centro disto para eu estacionar o Zé Inácio". Quando dei por mim já estava no meio do nada. Dei a volta e segui com cuidados redobrados. Quando chegámos ao centro de Benacazon reparei que as rodas de trás do Zé estavam já fora da localidade, o que dá para ver a pequenez da cena.
Tal não foi a nossa sorte que começámos a ouvir foguetes. Era noite de arraial! Toca de ir seguir os foguetes e vamos à festa! E que festa. Dentro de um pavilhão estava um senhor a tocar acordeão ainda a aquecer as cordas vocais para o que se esperava ser um concerto memorável. Cá fora uma espécie de feira popular com 7 atracções. Tive a oportunidade de contar que nas sete atracções estavam sete crianças (sendo que na mais popular estavam quatro miúdos). E, tirando meia dúzia de adultos que estavam a tomar conta dos putos não havia mais ninguém.
Fomos jantar ao restaurante de Benacazon e foi a surpresa da viagem. Entrámos, dissemos à senhora que éramos dois (e era mesmo verdade) e fomos encaminhados para o chefe de sala. Após alguns minutos de reflexão, o chefe de sala (vamos chamar-lhe "Paco" só para dar menos trabalho) encaminhou-nos para uma das 5 mesas que estavam livres.
Quando o Paco se preparava para debitar os pratos do dia, a Sra. Ogre roga-lhe para que fale mais devagar, de modo a que possamos entender 12% daquilo que ele estava para ali a dizer.
Compreensivo, Paco apressa-se a recolher as ementas e a trazer umas traduzidas para inglês.
Após alguma breve análise à lista deparo-me com um "quick shave of sailor" que acompanhava com qualquer coisa. Joguei pelo seguro e pedi uns bifes com molho de pimenta. A Sra. Ogre pediu um Mil Folhas de Bacalhau e Salmão. Enquanto esperava fui comendo o pão que, apesar de ser bem esquisito, marchou todo.
Nem demorou 10 minutos e chegou a comida. Excelente apresentação, óptimo paladar, digno de um restaurante "como deve ser".
Para a sobremesa veio outra empregada (vamos chamar-lhe "La Cabra", para facilitar) atender-nos. Perguntou-nos se queríamos sobremesa (que em espanhol de diz qualquer coisa começado por "P" que não consegui perceber) e eu, em perfeito português disse "pode trazer a lista, se faz favor?"
- "lista? lista? la carta?"
- "sim, sim, a carta... cabra... (isto da cabra era eu a pensar...)
chega a cabra com a carta e, como não sou apreciador de chocolate necessitava de esclarecer a composição de duas das sobremesas para poder efectivar uma escolha consciente. Estava na dúvida entre "Natillas", que já tinha comido na Sierra Nevada (onde fui exemplarmente servido pelo meu amigo Jesus) e "Lo dulce de la avuela" - o doce da avó. Se em Portugal o doce da avó é igual em qualquer lado, a avó dos espanhóis deve ser outra...
Quando pergunto à cabra "Olhe, desculpe, isto aqui do doce da avó é o quê?" perante a cara que ela fez, vi-me obrigado a repetir, mas mais pausadamente. Ela começou para ali a falar de uma maneira que eu só consegui perceber "licor".
- "ok, deixe lá, então e isto das natillas, relembre-me lá o que são natillas"
- "isso san natillas"
- "sim, mas o que sã..."
- "natillas. na-ti-llas"
- "ok, ok, pode ser isto" digo eu com um ar de como quem diz "eu sei ler ó cabra, mas em Portugal natillas não existe se eu te dizer "arroz doce" muito devagarinho tu vais ficar na mesma sem saber o que é!"
Vieram as natillas e afinal é tipo custarda. Para aqueles que, como a Sra. Ogre perceberam mostarda, não, é custarda. Não é mais que uma mistura algures entre maizena e leite creme.
No Sábado, já com o hotel pejadinho de portugueses que aproveitaram o fim-de-semana prolongado, fomos até à isla mágica. Muita gente, algum calor, mas aquilo é pequenito. Despacha-se bem numa tarde.
Depois disso, de volta a Portugal, não sem antes, agora sim, atestar o depósito a 700m da fronteira. um depósito por menos 15 euros é coisa para compensar.
Domingo foi passado em depressão. Já não tenho mais férias este ano...
Sem comentários:
Enviar um comentário