Porque o Cone também presta serviço público, encarem isto como uma lembrança e um estimulo para começarem a preencher os ditos modelos 3 e respectivos anexos!
Apesar da evolução do Homem, da Industrialização, do choque tecnológico, etc, nós continuamos ainda bem perto daquilo que fomos, seres tribais, ligados por laços culturais muito fortes que se renovam todos os anos em volta de um ritual colectivo.
Existe uma tribo, numa ilha perto da Austrália, os Bunlaps, que todos os anos reúnem os homens da aldeia em torno da construção de uma enorme torre que servirá de base para um salto de fé, tipo Bungee Jump, mas com leanas atadas aos tornozelos, enquanto os homens e crianças do sexo masculino eleitas para este momento, vão saltando. Em baixo, a restante tribo vai dançando e entoando cânticos de forma a incentivar os saltadores e a desejar que no próximo ano as chuvas tragam boas colheitas.
Pois bem, eu senti algo muito proximo desta realidade naquela luminosa manhã de 2006 em que fui às finanças, não para entregar o IRS, pois, graças ao choque tecnológico, já o tinha feito pela Internet, mas fui tratar do pedido de isenção do IMI (Imposto Municipal que não percebo e não quero pagar, e para tal tive de andar tipo engenheiro a olhar para a planta da casa a fazer medições... história que contarei depois). O facto de me ter apresentado numa repartição de finanças no último dia para a entrega do IRS, mas sem esse generalizado objectivo, fez de mim um turista, ou melhor, um antropólogo que se infiltra no seio de uma tribo para estudar os seus hábitos e costumes culturais.
Agora sim, vejo o nosso lado tribal, assente num ritual anual que fortalece os laços sociais. Foi bonito de se ver. Eram centenas de pessoas que partilhavam histórias, emoções, sentimentos, mas que no fundo estavam ali, faziam parte de algo. Durante quase um dia inteiro, para muitos, aquela era a sua tribo. Vi pesoas a chorar, pessoas a rir, pessoas que se incentivavam mutuamente - "Vá já so faltam 178 senhas para a sua vez! É verdade, já faltou mais!" e vi pessoas revoltadas "É por isto que Portugal não vai para a frente!".
Assim, como os individuos da tribo Bunlap, que sabiam perfeitamente que se poderiam magoar saltando daquela altura, os contribuintes estavam ali, seguros e confiantes, pois aquele era o seu momento. Aos poucos, vi as pessoas a sairem da sala, onde acabavam de entregar a declaração de IRS, com ar de quem sofreu, mas rejubilando o facto de terem conseguido dar o salto - "este ano já está, agora é só para o próximo!".
Eu, que também não quero fugir às minhas raízes, percebi que realmente as novas tecnologias só levam a que se percam as coisas boas da vida. Por isso, este ano, que se lixe a "passa" tecnológica, que se lixe a entrega do IRS pela Internet, eu quero fazer parte do grupo!