quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Aquilo é que era vida...

Aproveitando o facto de estar "preso" na melancolia da casa de campo de meus sogros, vou inaugurar a minha participação a solo neste mui prestigiado Blog.

Como tenho estado de férias nestas últimas duas semanas, passo a maior parte dos meus dias dividido entre sestas no sofá, jogar Playstation e ver televisão. E foi precisamente este último passatempo que me provocou um esgar de dor misturado com alguma nostalgia. Dor porque carreguei na tecla 4 do meu telecomando quando estava a dar aquela rubrica onde indivíduos que não têm mais nada para fazer (e tanta rua que há aí a precisar de ser varrida como deve de ser...) se entretêm a debater temas que não têm interesse absolutamente nenhum da vida de pessoas que não interessam a ninguém. Foi ao ver isso que o seguinte pensamento me assolou: - "Oh Ogre, o que é feito da televisão, nas tardes dos dias de semana, de antigamente?" - Isto porque eu aprecio fazer perguntas a mim próprio, sabendo de antemão que não vou conseguir responder...

De repente voltei a ter 8 anos... Estar na escola, já quase uma hora, a ter Meio Físico e Social (nunca cheguei a perceber o que é que se dava nessa disciplina) quando toca a campaínha. Toca a arrumar criteriosamente os 4 livros, por ordem de disciplina, arrumar o caderno diário (aqueles com capa amarela onde escreviamos o nome e o número) no armário da sala de aula, pôr a gigantesca mochila às costas e correr até casa da minha avó, onde, se tudo corresse bem, o almoço era carne.
Tudo correu bem, bife com batatas fritas e o mítico ovo a cavalo! Uma vez aspirado o almoço, toca de ir fazer os trabalhos de casa. Normalmente, na disciplina de Português, a Sra. Professora (no caso, a D. Lúcia) lia um texto e mandava assinalar certas e determinadas palavras com um "o" e/ou um "x".
Se a palavra tivesse só um "o" tinhamos só de decompô-la, se tivesse um "o" e um "x", além da decomposição ainda incluía uma ida ao dicionário para ver o seu significado. Depois, no caderno dos TPC's ficava mais ou menos isto:

marcador
mar-ca-dor
marcador
O Ogre utiliza o marcador para pintar o desenho.

Repetido para as cerca de 20 palavras que traziamos por dia. Depois dos trabalhos estava livre para fazer o que quisesse e, invariavelmente, o que eu queria era sentar-me à frente da televisão à espera das 14h30, 15h. Eis que começava, já não me lembro da música, nem do genérico, mas ainda guardo uma imagem num recanto da minha perturbadamente da D. Vera Roquette. E digo D. Vera Roquette porque, apesar de ter sido a primeira mulher por quem tive uma forte atracção, era mais velha que eu e, por isso, carecia de um trato respeitoso.

Haverá melhor programa do que um que nos dava uma opção de escolha entre duas séries e, como se isso já não bastasse, ainda nos proporcionava momentos de puro deleite com outra série enquanto nos decidiamos? Eu torcia sempre ou pelos "Soldados da Fortuna" (Agora o "Esquadrão Classe A - versão brasileira Herbert Richards") ou pelos "Três Dukes". Enquanto lá no cantinho se podia acompanhar a votação em directo (a minha mente gritava, de tempos a tempos, "VOTEM NO BLOCO A, PAROLOS!") eramos contemplados com um episódio das aventuras do "Tom Sawyer". O mundo não podia ser mais perfeito. Esperem, podia sim. Faltava pedir à minha avó que me arranjasse uma carcaça com tulicreme ou com manteiga e açúcar. Agora sim, o mundo é perfeito. Como se não bastasse, o Bloco A vence por larga margem. Depois do Tom Sawyer ainda vou poder ver os "Três Dukes"! E quando acabar, o meu primo vai chegar da escola e vamos poder continuar a construção dos nossos carrinhos de rolamentos!

Como a vida era simples...

1 comentário:

Anónimo disse...

Finalmente Ogre dá um ar da sua graça. Abençoado sejas, grande malandro.