Com a chegada do Natal, sou invadido por uma antiga angustia. Por mais que devore todos os intervalos, em todos os canais, há mais de 15 anos que não a vejo. Já devem ter adivinhado do que falo. É verdade: "A Minha Agenda".
Durante a infância fui marcado por 3 coisas, as bombocas sabor a morango, as pastilhas pirata e "A Minha Agenda". Quando chegava a época natalícia, lá começava ela:
"Pró Natal, de presente, eu quero que seja... A Minha Agenda! A Minha Agenda!" Estou deprimido demais para falar da construção gramatical desta frase, pois, "A Minha Agenda" nunca foi minha!!!
Nunca consegui obter esse manual de sobrevivência infantil. Como tal, fui sempre colocado de parte! Nunca lhe toquei, nunca senti a textura das suas folhas ou a dureza da sua capa. A televisão foi o único elo que me ligou a esse Santo Graal. Lutei incessantemente pela sua conquista, atravessei Continentes e Oceanos para a encontrar. Bem, não foi tanto assim, quanto muito ia até à papelaria do final da rua e talvez, em dias de chuva, lá tivesse de saltar uma ou outra poça de água. Desculpem o exagero, mas estava lançado. Enfim, todos os natais implorei pela “A Minha Agenda” e em todos acabava presenteado pela decepção de não a ter. Os anos passaram, fui crescendo, mas nunca a esqueci. Um amor platónico nunca visto, conhecia-a por dentro e por fora. Ela tinha jogos, receitas, anedotas, magia e tudo o que realiza e completa um ser humano.
A minha angustia foi aumentando à medida em que "A Minha Agenda" desaparecia nos confins do éter televisivo . Ano após ano, o anuncio na TV ia sendo reduzido, chegando ao extermínio. Foi a dor mais forte desde que soube que o Presto não tinha glutões verdes que comiam as nódoas! Como tal, fui apenas sobrevivendo com esta dor. Amargurado e sentido, tive de a reprimir e encarar a vida de frente. Ainda mantenho a esperança de que “A Minha Agenda” esteja bem, com quem a saiba cuidar, que tenha feito todas as suas receitas, lido as suas anedotas e aprendido as suas magias.
Vivo na certeza de que este amor à distância não morrerá e sei que apesar de nunca ter sido minha, “A Minha Agenda” jamais me deixou!
segunda-feira, 4 de dezembro de 2006
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